Sobre o tempo, casulos e penicos
São muitas as vivências que me fizeram refletir sobre o tempo de cada um. Mas eu escolhi discorrer sobre esse tema com base na minha experiência com a maternidade. Sobre como a criança nos ensina a reaprender a respeitar o tempo do outro. Cada um tem o seu tempo.
Aprender a respeitar o tempo do outro é um grande desafio. Porém, necessário para se viver em harmonia com os outros e consigo mesmo. Entender que as borboletas precisam de uma maturação para desabrochar e sair do seu casulo, é simples. Mas em se tratando do ser humano não é uma tarefa tão fácil, pois temos pressa!
Exatamente hoje, as vésperas do Natal de 2018, resolvi escrever sobre esse tema devido a reflexão sobre o tempo do meu filho em aceitar a tomar banho de chuveiro. Com 2 anos e 4 meses, agora ele perdeu o medo do chuveiro.
Então, pensei, como esses pequenos seres nos ensinam: não adiantaria forçar ele a tomar banho de chuveiro antes disso. Fizemos algumas tentativas quando ele fez 1 ano de idade e percebemos que ele tinha medo do chuveiro e ficava muito incomodado com a queda d’água em sua cabeça. Ok. Está tudo certo! Esperamos o tempo dele. Por que ficaríamos “forçando a barra” para que ele parasse de tomar banho na banheira? Necessidade? Não. Nenhuma. A “necessidade” seria satisfazer o nosso tempo, porque temos pressa!
A mesma coisa acontece com o desfralde que iniciamos há pouco menos de um mês. Ele surpreendeu e logo aprendeu a fazer xixi no peniquinho. No segundo dia, sujou apenas uma cueca! Que maravilha! Ele não aceitou fazer no vaso, escolheu o penico. Ok. Está ótimo! No tempo dele aceitará o vaso. Ainda não quer fazer o cocô no penico, apenas o xixi. Me parece inseguro e como ele faz sempre em um horário, às vezes muda, claro, deixo-o com a fralda ou ele faz na cueca e eu troco. Ok também. Faz parte do processo. Não deve ser fácil passar a ter o controle dos esfíncteres da noite para o dia. Alguém lembra? hehe
E por que eu estou usando esses exemplos de criança aprendendo a lidar com as necessidades fisiológicas da vida? Por dois motivos. O primeiro já mencionei acima, as crianças são os nossos grandes professores no aprender a respeitar o tempo próprio e do outro; segundo, porque necessidades fisiológicas fazem parte das nossas vidas, do nosso cotidiano, necessidades “simples” que passam desapercebidas em nossas vidas de adultos, mas tão importantes para o começo da vida e para nossa sobrevivência.
Entender e aceitar o nosso tempo e o do outro também é algo muito simples. Nascemos sabendo. Olha só isso! Porém, nós desaprendemos e aprendemos a ter pressa!
Assim como a criança tem o seu tempo do desmame, de aceitar comida sólida, do desfralde, do banho no chuveiro, nós também temos o nosso tempo para nos entender primeiro, e depois entender e aceitar o tempo do outro. E ultrapassar esse tempo poderá trazer consequências não muito agradáveis.
Vivemos em um mundo acelerado e somos ansiosos para que as coisas aconteçam para ontem, e nessa correria, muitas vezes queremos que os nossos filhos aprendam e aceitem algumas coisas rapidamente, queremos que o outro aceite a nossa decisão, queremos que o outro aprenda com as lições da vida que ele está “errada” ou agiu “erroneamente”. Mas às vezes serão necessárias muitas lições, muita dor, muita porrada para aprendermos. E cada um tem a sua caminhada e as suas necessidades de amadurecimento e aceitação.
Cada um tem o seu tempo!
Olhemos para os nossos sentimentos e para a nossa saúde: você se julga uma pessoa boa, do bem e encontra-se com alguma doença que veio de repente e de forma avassaladora? Houve algum aprendizado através dessa doença? Se não, já parou para refletir que as doenças da alma refletem em doenças físicas?
Em outro texto eu mencionei que a nossa evolução se dar através do amor ou da dor. E na maioria das vezes é através da dor. Essa dor muitas vezes vem justamente para nos fazer entender que chegou o tempo de olhar para dentro e tentar visualizar o que precisa ser revisto. Porém, às vezes, não estamos preparados e não aceitamos esse olhar para dentro. Ok. Não chegou o seu tempo ainda. Esperemos outra oportunidade. Que a vida seja generosa e lhe dê outra oportunidade, ou outras oportunidades. Apenas devemos lembrar que temos pouco tempo por aqui.
Muitas vezes eu não entendo o tempo do outro, mas procuro respeitar. Acho que o respeito é a grande chave para o início da aceitação de que cada um tem o seu próprio time. Lembre-se do tempo necessário para que a criança aprenda a ter controle sobre seus esfíncteres. E se esse tempo não chegar para você, procure entender o porquê e se não chegar para o outro, procure respeitar, pois talvez esse ainda tenha muito o que aprender antes.
Priscylla Spencer
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