A falta de tesão dos jovens pelo "ensino" e a fadiga do educadores
Outro dia, fazendo um trajeto de ônibus até a Avenida Paulista, ouvi relatos que me fizeram refletir ainda mais sobre um tema tão importante em nosso País e no mundo. E ainda veio de encontro aos últimos textos que eu escrevi sobre a revolução humana (http://bit.ly/revolucao_humana) e a esteira das fórmulas decoradas. (http://bit.ly/esteiradasformulasdecoradas). Quem leu vai fazer as pontes.
Ela sentou-se ao meu lado, uma senhora de aproximadamente 60 anos. Aqui ela receberá o nome fictício de Maria. Aparentemente Maria ouvia música, conduzida pelos seus fones de ouvido, conectados ao seu aparelho de celular. Mesmo sentada, Maria mexia seu corpo, dançava.
Após uns 3 minutos sentada, ouvindo sua música e dançando, ela me olhou e disse para eu não me importar com o que ela estava fazendo. Afirmou que precisava fazer aquilo para relaxar, pois ser professora do Estado não era fácil e teria um dia de trabalho até às 20h, eram 10 horas da manhã. Perguntei-lhe qual a faixa etária dos alunos aos quais ela lecionava. Ela falou com tom irônico: são “aborrecentes”. “Tenho dez turmas, algumas com 59 alunos. Então, tenho que me distrair até chegar na escola. E na volta também tenho que fazer o mesmo ritual para “limpar” tudo que se passou durante o dia.”
Continuou a me relatar que aquela era a forma dela se distrair, pois tivera um enfarte, ficara alguns dias na UTI e mais 8 dias internada. E que o médico lhe passara uma gama de remédios para o coração, mas ela não tomava nenhum deles, tentava se cuidar sem os remédios. Porém, andava com todos eles em sua bolsa, 5 diferentes, pois quando se via nervosa e com vontade de bater em um aluno por provocá-la de alguma forma, ela tomaria todo os seus 5 remédios de uma vez só. E pouco depois de tomá-los teria que dormir por pelo menos 1 hora e meia. Os remédios lhe deixavam dopada, ao ponto de não poder se locomover sozinha.
Ela me mostrou fotos dela, usando um óculos escuro colorido, me dizendo que foi uma aluna que fez as fotos e enviou para ela. Logo ela disse: “Essas fotos não foram para me elogiar, são para me zoar, eles me fizeram usar esse óculos e depois fotografaram. Agora pense, se postarem essas fotos na internet? Assim que eu chegar na escola hoje, vou com ela na diretoria. Ela tem que apagar as fotos do celular dela.”
Conseguiram imaginar o constrangimento de uma senhora com 61 anos de idade diante de uma turma de adolescentes fervorosos fazendo a mesma de “palhaço”? Lembram do texto anterior quando mencionei que precisamos de disciplinas que integrem valores na evolução do ser? Lembram de quando eu mencionei sobre os “males” da tecnologia? Qual a solução? Tirar o celular desses alunos?
Isso não seria consequência de uma metodologia de ensino ultrapassado? O que faz esses alunos “brincarem” dessa forma com o professor em sala de aula? Onde fica o respeito pelo outro? O respeito por alguém que não tem culpa do modelo de ensino bicentenário existente até os dias de hoje. Esses jovens não se sentem atraídos pelas aulas?
E onde fica o amparo psicológico para essa profissional que disse ter um “jeitinho” para fazer esses mesmos alunos não gritarem com ela, quando eles estão fumando dentro da sala de aula? “Tenho que falar bem baixo com eles e explicar calmamente as coisas, para que eles não gritem comigo, sabe? Porque eles fumam cigarros e outras coisas!”
Esse relato só constata o que tenho provocado nos textos anteriores. Jovens que não são atraídos às salas de aulas porque o sistema de ensino não proporciona aprendizado. Muito pelo contrário, mascara a criatividade desses jovens. E professores que não foram preparados concomitante à evolução tecnológica e humana. As novas gerações têm fome de conhecimentos novos, dos mais diversos possível! E esse alimento, infelizmente, não é fornecido pelas escolas públicas.
Já pararam para pensar que esses jovens estão sendo engolidos pelo fadado sistema de ensino existente no País? E que esses educadores estão sendo massacrados pela frustração desses alunos?
E Maria?
Logo chegou o momento de Maria descer, não tivemos muito tempo para conversar mais. Ela iria fazer um trajeto de metrô e mais um ônibus. Desejei-lhe boa sorte e ela agradeceu.
Espero que Maria tenha tempo para ver uma transformação na educação desse País! Espero que as mudanças não cheguem tarde demais para ela e para tantas outras Marias, Fátimas, Pedros etc. Espero que Maria possa seguir com saúde e que esses jovens tenham acesso ao verdadeiro “tesão” pelo aprender e que possam criar sem “bloqueios”.
Vamos ajudar Maria e todos os outros com uma nova proposta de educação? Vamos fazer com que essa juventude seja de fato inserida na sociedade? Vamos permitir que eles sejam criativos?
Uma educação integrada com aulas de música, autoconhecimento, artes, educação física, relacionamento humano, seria o ponto de partida para promover esse tesão. E Maria poderia ter acesso à cursos de reciclagem e novas ideias de ensino. Maria também pode aprender.
Vamos ajudar Maria (todos os educadores desse País) e “salvar” os nossos jovens? Senhores pais, vocês são o termômetro dessa juventude. Contamos com vocês!
Priscylla Spencer
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